Artigo original • Revisão por pares • Acesso aberto
Festas Feiras de Sementes Crioulas: resistência e reexistência diante dos desafios
Creole Seed Festivals: resistance and reexistence in the face of challenges
Luciana Galvão Martins Valdir Frigo Denardin
Resumo A propriação das sementes está inserida em diversas racionalidades que envolvem modelos de produção e consumo aplicados às atividades agrícolas e de exploração dos recursos naturais, que promovem sua mercantilização e o monopólio da agrobiodiversidade. Neste contexto, nas Festas Feiras de Sementes Crioulas, emergem práticas de resistência e luta por territórios, onde diversos movimentos sociais se articulam em torno das sementes. Investigou-se as feiras como espaços de construções de resistência e de reexistência diante das dinâmicas da agricultura hegemônica. Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa e descritiva, realizada entre 2020 e 2024, envolvendo observação participante em Festas Feiras de Sementes Crioulas no Paraná, Brasil. Com base em narrativas orais e observações diretas, identificou-se que esses espaços desempenham um papel crucial na preservação das sementes crioulas, valorização da agrobiodiversidade e construção de práticas agrícolas agroecológicas. A pesquisa evidenciou que as feiras se configuram como práticas territoriais em oposição às forças de desterritorialização da agricultura moderna, de espaços de resistência aos desafios à re-existência a partir dos desafios numa força reterritorializadora pela semente crioula. Assim, os resultados desta pesquisa apontam que as feiras são uma expressão concreta de luta e resistência, que promove as pluridiversidades dos territórios. Palavras-chave: Território. Desterritorialização. Reterritorialização. Agrobiodiversidade. Movimentos sociais. Abstract The appropriation of seeds is embedded in multiple rationalities involving models of production and consumption applied to agricultural activities and the exploitation of natural resources, which promote their commodification and the monopolization of agrobiodiversity. In this context, the Festas Feiras de Sementes Crioulas (Heirloom Seed Festivals) give rise to practices of resistance and struggles for territory, where various social movements organize around the defense of seeds. The festivals were investigated as spaces for the construction of resistance and reexistence in the face of the dynamics of hegemonic agriculture. This article presents the results of a qualitative and descriptive study conducted between 2020 and 2024, involving participant observation during Festas Feiras de Sementes Crioulas in Paraná, Brazil. Based on oral narratives and direct observations, it was found that these spaces play a crucial role in the preservation of heirloom seeds, the valuing of agrobiodiversity, and the development of agroecological farming practices. The research shows that these festivals are configured as territorial practices that oppose the forces of deterritorialization imposed by modern agriculture, spaces of resistance that, from within the challenges, give rise to reexistence and reterritorialization through the heirloom seed. Thus, the findings indicate that these festivals are concrete expressions of struggle and resistance, promoting the pluridiversity of territories. Keywords: Territory. Deterritorialization. Reterritorialization. Agrobiodiversity. Social movements. | Submissão: Aceite: Publicação: |
Citação sugerida MARTINS, Luciana Galvão; DENARDIN, Valdir Frigo. Festas Feiras de Sementes Crioulas: resistência e reexistência diante dos desafios. Revista IDeAS, Rio de Janeiro, v. 19, p. 1-24, e025006, jan./dez. 2025. Licença: Creative Commons - Atribuição/Attribution 4.0 International (CC BY 4.0). |
Introdução
As discussões sobre o processo de apropriação e usos das sementes pelos sistemas modernos de agricultura demonstram um cenário de disputa, são reflexões complexas envolvendo o monopólio da natureza, a apropriação da agrobiodiversidade (colonização da natureza e dos corpos humanos e não humanos) e a mercantização das sementes. Na busca da compreensão dos espaços das Feiras de Sementes Crioulas e de saber como os sujeitos constroem práticas de resistência, percebeu-se que dinâmicas de luta e de reivindicações, nos mais diversos movimentos sociais, giram em torno das sementes crioulas.
Durante o movimento de defesa da agroecologia pelas sementes crioulas nas feiras de sementes, surge um projeto de vida e de reivindicação política de direitos sociais e econômicos, de acesso à terra, ao trabalho, à soberania e à segurança alimentar. Shiva e Mies (2014) apontam os efeitos das lógicas modernizantes na agricultura moderna, tais como concentração de terra e de produção de alimentos, do latifúndio e monoculturas que acabam por sustentar o sistema de commodities agroalimentar, com Organismos Geneticamente Modificados (OMG) que, por consequência, vulnerabilizam a segurança e a soberania alimentar dos povos (fome e deficiência alimentar e de saúde), com sequestro de diversidades agrícolas, biológicas e culturais.
Nas Festas Feiras de Sementes Crioulas no Paraná, a prática e o uso de sementes nativas, crioulas e sem agrotóxicos são comemorados, muito associados à reprodução de uma agricultura agroecológica de forma a contribuir para a agrobiodiversidade e para ações voltadas à valorização dos saberes das comunidades tradicionais. A agrobiodiversidade é uma contestação levantada pelos sujeitos sociais nos espaços das Festas Feiras de Sementes Crioulas, que defendem a diversidade genética como fundamento para combater a monotonia alimentar e garantir uma base nutricional mais rica e sustentável, buscando a independência das sementes comerciais e da agricultura hegemônica, pautada na utilização de insumos e agrotóxicos.
As centralidades nas sementes crioulas nesses encontros vão além de sua função produtiva ou de utilidade agrícola, pois elas simbolizam memória, ancestralidade, território e autonomia. Elas transcendem a condição de meros insumos agrícolas, pois são portadoras de conhecimentos, cultura e modos de vida, sendo valorizadas não somente pelo que produzem, mas como são produzidas, cuidadas, guardadas e compartilhadas. O artigo tem como objetivo analisar, a partir de uma abordagem qualitativa e descritiva, como as Festas Feiras de Sementes Crioulas no Paraná/Brasil se configuram como espaços de construções de resistências e de reexistência aos desafios diante das dinâmicas da agricultura hegemônica. Procurou-se evidenciar como esses encontros afirmam saberes e criam estratégias de enfrentamento às lógicas mercantilistas do agronegócio.
Este artigo está organizado em quatro seções, além das considerações finais. A primeira seção apresenta a metodologia adotada, com ênfase em sua abordagem qualitativa e descritiva, baseada na observação participante em Festas Feiras de Sementes Crioulas no estado do Paraná, entre os anos de 2020 e 2024. Em seguida, discute-se o conceito de resistência, que foi mobilizado ao longo da pesquisa a partir da atuação coletiva de sujeitos sociais vinculados a territórios de disputa. A terceira seção aprofunda essa perspectiva ao analisar como, diante e a partir dos desafios vividos nos territórios, emergem práticas agrícolas e discursivas voltadas à reexistência, rompendo com a lógia da agricultura colonizadora. A quarta seção apresenta as Festa Feiras de Sementes Crioulas a partir de seus espaços, sujeitos sociais e formas de práticas coletivas. E, por fim, na última seção, as feiras como espaços reterritorializadores, nos quais se afirmam modos de vida e saberes que confrontam a desterritorialização promovida por disputas e pelo agronegócio. Trata-se de uma construção de resistência que avança em direção ao rompimento com práticas agrícolas colonizadoras, promovendo dinâmicas de reexistência e reterritorialização, afirmando-se contra a agricultura hegemônica.
Metodologia
A proposta metodológica deste trabalho baseou-se em uma abordagem qualitativa e descritiva, com ênfase na observação participante junto a feirantes, organizadores e participantes das Festas Feiras de Sementes Crioulas no Paraná/Brasil. Além desta abordagem, recorreu-se à História Oral como instrumento de pesquisa, valorizando e considerando os processos narrativos orais e as memórias dos sujeitos envolvidos.
Nesse sentido, Delgado (2006, p. 23) destaca que a História Oral é um instrumento de pesquisa voltado “[...] à produção de narrativas como fontes de conhecimento, mas principalmente do saber”, contemplando dimensões como a lembrança, a escuta e a partilha. Articulada a essa perspectiva, adotou-se a pesquisa participante, compreendida como uma proposta político-pedagógica que busca integrar o estudo dos processos de transformação social ao engajamento do pesquisador no campo (Oliveira; Oliveira, 2006). Para os autores, trata-se de um método comprometido com os movimentos sociais e suas lutas, colocando os instrumentos científicos a serviço de objetivos e fortalecendo o protagonismo das comunidades pesquisadas (Nascimento; Denardin; Quadros, 2024).
A articulação entre a observação participante e a História Oral possibilitou a escuta das narrativas que surgiram das vivências, dos saberes e das práticas dos sujeitos sociais envolvidos nas Festas Feiras de Sementes Crioulas. Para facilitar a visualização do campo, são apresentadas no Quadro 1 as feiras visitadas contendo o local e a data dos eventos:
Quadro 1 – Festas Feiras de Sementes Crioulas
Feira | Data e Local |
Feira de Produção Local | 29/10 a 2/11/2021, em Morretes (PR) |
Um dia de Campo Feliz na Abai (Associação Brasileira de Amparo à Infância) | 15/11/2021, em Mandirituba (PR). |
Feira das Sementes Agroecológicas, dentro da 19a Jornada de Agroecologia (Curitiba) | 22 a 26/6/2022, em Curitiba (PR) |
18a Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade | 16 e 17/9/2022, em Irati (PR) |
Feira de Sementes e Mudas | 12 e 13/011/2022, em Morretes (PR) |
19a Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade | 25 a 26/8/2023, em Palmeiras (PR) |
Festa Feira de Sementes Crioula no Quilombo da Restinga | 16/9/2023, na Lapa (PR) |
Encontro com os povos originários | 7/10/2023, em Mandirituba (PR) |
Festa das Sementes e dos Guardiões e Guardiãs da Biodiversidade | 8/10/2023, em Mandirituba (PR) |
Fonte: Martins (2024).
Além disto, as entrevistas semiestruturadas realizadas entre os anos de 2020 e 2024 contaram com a participação de diversos sujeitos. Contudo, para este artigo, foram destacados seis deles. Os participantes entrevistados apresentam diferentes frentes de atuação em movimentos sociais e redes coletivas ligadas à agroecologia e às representatividades de movimentos sociais, tais como: Rede de Sementes da Agroecologia (ReSA), Coletivo Triunfo, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e Movimento Sem Terra (MST). Destacam-se trajetórias que se entrelaçam aos movimentos sociais, como os guardiões e guardiãs de sementes, famílias agricultoras, expositores e organizadores das feiras. A diversidade de vínculos evidencia a multiplicidade de perspectivas e práticas presentes nas feiras, conforme mostra o Quadro 2, como um complemento a partir da observação participante e dos relatos orais registrados durante o trabalho de campo.
Quadro 2 – Entrevistados e representações
Representação – Movimento Social | Participantes |
Rede de Sementes da Agroecologia (ReSA) | Participantes 01, 02, 03, 04, 05 e 06 |
Coletivo Triunfo | Participantes 01, 04 e 05 |
Movimento Sem Terra (MST) | Participante 01 |
Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) | Participantes 04 e 05 |
Comissão Pastoral da Terra (CPT) | Participante 06 |
Guardiã(ão) Semente | Participantes 01, 02, 03 (guardiã urbana) e 06 |
Organizador(a) de feiras | Participantes 04, 05 e 06 |
Fonte: Martins (2024).
A presença nos eventos permitiu acompanhar os preparativos, a organização das feiras e suas dinâmicas internas, além de participar dos encontros de organização entre os guardiões e guardiãs de sementes, movimentos sociais e demais colaboradores e envolvidos. Em uma das feiras a participação da pesquisadora também envolveu contribuições na organização do evento, em especial a realizada em Morretes, possibilitando o acompanhamento de decisões coletivas e articulações políticas que antecederam a realização da feira. Essa ação intensificou o processo de escuta, observação e compreensão dos significados atribuídos às sementes, à agroecologia e à luta dos territórios. Durante a observação participante, a convivência com os sujeitos sociais envolvidos ampliou o acesso a experiências que não se expressam apenas no discurso, mas também nos gestos, práticas e silêncios, revelando múltiplas camadas de sentidos que atravessam e atravessaram os encontros festivos e políticos em torno das sementes.
Portanto, o propósito de se fazer uma pesquisa comprometida com os sujeitos sociais parte da preocupação em contribuir e participar da construção do conhecimento com eles e não apenas sobre eles. Essa perspectiva está ligada a uma educação dialógica e transformadora. Como afirma Paulo Freire (2002, p. 13), a formação do educador exige uma “curiosidade epistemológica”, alimentada pelo processo de ensino-aprendizagem em que “quem forma se forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. Essa perspectiva reafirma a pesquisa como um campo de trocas, aprendizagens e reconstruções mútuas, no qual a escuta e a presença assumem elementos centrais.
Resistência aos desafios
Nesta seção propõe-se refletir sobre a noção de resistência aos desafios vivenciados pelos sujeitos sociais nos territórios onde se realizam as Festas Feiras de Sementes Crioulas. Para tanto, adotou-se uma abordagem etimológica das palavras “resistência”, “resistir”, “existência” e “existir”, buscando compreender como essas expressões se entrelaçam nas práticas e narrativas dos participantes, conforme mostra o Quadro 3. Esses termos não se configuram categorias centrais de análise, mas atuam como referências conceituais que subsidiam e orientam a interpretação dos dados.
Quadro 3 – Etimologias das palavras resistência, resistir, existência e existir
Palavra | Etimologia Latim | Definições |
Resistência | resistentĭa | Como ato ou efeito de resistir; qualidade do que é resistente, força que um corpo reage contra a ação do outro. O prefixo “re” como “repetição” e “sistere” como continuar existindo. |
Resistir | resistĕre | Opor resistência (a); não ceder (a); suportar sem alterações ou danos, em face da ação de agentes agressores; ser resistente; durar; suportar; aguentar (situação exigente ou extrema); sobreviver (a); conservar-se; subsistir; defender-se; lutar. |
Existência | exsistentĭa | Como estado do que existe, do que tem realidade, do que é verdadeiro; aquilo ou aquele que existe; ente; condição do que tem vida; a vida; modo como se vive; condição do que está em algum lugar; presença; período de tempo que algo dura; duração. |
Existir | exsistĕre | Ter existência; fazer parte da realidade material ou imaterial; viver; ser; estar; haver; ter importância; subsistir; durar. |
Fonte: Martins (2024), tendo como base o Dicionário da Porto Editora (2023).
A existência como estado do que existe, do modo como se vive, subsistir e ter existência fazendo parte da realidade material ou imaterial de ser, estar, ter e haver. Da relação entre existência e resistência, entende-se que a resistência à ameaça a existência conduz à sua defesa. Ou, ainda e inclusive, na busca de uma vida digna e contra desigualdades, como expressão de identidade culturais, étnicos, raciais, de gênero, entre outras formas de pertencimentos
Para Pereira (2017, p. 1), no contexto atual, “para muitos, não resta alternativa senão resistir”, sendo a resistência o fruto direto dessas lutas sociais, fornecendo tangibilidade aos embates por justiça[1]. Pereira apresenta resistência como o ato de desviar(-se), dobrar(-se), curvar(-se), deslocar(-se), como uma ação ativa diante dos desafios ou das injustiças percebidas por grupos subalternizados e de relações de poder. O Quadro 4 apresenta diferentes compreensões e os significados atribuídos à resistência evidenciando a pluralidade de formas pelas quais elas se manifestam nas suas múltiplas leituras.
Quadro 4 – Resumo dos modos de resistência
Resistir, reagir |
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Desviar, Curvar, Dobrar |
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Devir, Deserção |
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Luta contra |
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Deturpação Insubmissão |
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Re-existência – resistir e existir |
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Fonte: Martins (2024), com base em Pereira (2017).
Sendo assim, as resistências são diversas, bem como as muitas formas de resistir: resistir é dobrar-se, ou seja, incidir sobre si mesmo(a); resistir é desviar, para não chocar diretamente contra um poder; resistir é curvar-se, ainda que em mínimas curvaturas; resistir é deslocar, criando novas linhas de fuga; resistir também é silenciar, uma silenciosa e teimosa resistência; resistir é devir, como fluxo permanente que transforma realidades; resistir é deserção, abandono do lugar/ser que antes se frequentava ou deserção do modo gerado pelo capital; resistir é reagir, é uma ação na direção ao rompimento de fronteiras e, ao intervir sobre a ação alheia pode afetá-la. E, resistir é r-existência, reexistência e re-existência para novos horizontes de sentidos, resistência decolonial.
Se as Festas Feiras de Sementes Crioulas possuem esse caráter cultural e social, tanto celebrações (festas) quanto espaços de troca e comercialização (feiras), isso indica que não são somente transações comerciais, mas momentos de encontro, partilha, celebração, organização, ação e práticas comunitárias. As sementes crioulas são preservadas, guardadas e conservadas por comunidades indígenas, quilombolas, faxinalenses e agricultores e agricultoras, guardiões e guardiãs de sementes, de casas de sementes. Elas carregam heranças culturais e biológicas, ancestrais, promovendo a agrobiodivesidade. A resistência expressa a luta dessas comunidades contra os desafios impostos por sistemas agrícolas hegemônicos, como o agronegócio, que tendem a privilegiar a monocultura e o uso de sementes geneticamente modificadas, que poluem a terra, o ar e as águas. Aos desafios, está a referência aos obstáculos enfrentados, como a perda da diversidade alimentar, a territorialização do agronegócio e as ameaças à soberania alimentar e aos direitos dos povos tradicionais e da Natureza.
Raúl Zibechi (2015) trabalha o conceito de “território em resistência”, nas resistências em que se baseiam as articulações entre os sujeitos, em relações de solidariedade e no estabelecimento de economias alternativas, partindo de reflexões das lutas dos movimentos populares rurais e das experiências periféricas urbanas. Assim, aborda e discute os movimentos sociais na perspectiva latino-americana elaborados em suas próprias bases, suas características de mobilização e de pertencimento, com intencionalidades de modificar os sistemas sociais estabelecidos e defender suas metas e reinvidicações. As novas territorialidades criadas pelos movimentos sociais, segundo o autor (Zibechi, 2015, p. 162), “são espaços nos quais os excluídos asseguram sua sobrevivência diária”.
Como síntese, concentou-se nos pontos discutidos em relação ao conceito de resistência, destacando suas diversas abordagens e como podem se relacionar com as feiras de sementes crioulas. As feiras emergem como espaços de cooperação e promoção do bem comum, inseridas em uma abordagem político-social dos movimentos sociais. A semente crioula desempenha um papel central e unificador neste contexto, contextualizando-se em debates diversos que abrangem reivindicações relacionadas aos direitos da natureza, dos povos originários, das comunidades quilombolas, das famílias agricultoras, ribeirinhas, faxinalenses e da agroecologia. Nos resultados, essa inserção de temas reflete uma visão integrada e holística da relação entre sementes, território e resistência, evidenciando a importância desses elementos para a soberania alimentar.
Re-existência a partir dos desafios
Opondo-se ao modelo de agricultura vigente e ao agronegócio, a agroecologia incorpora princípios ecológicos, socioeconômicos e agronômicos que promovem a sustentabilidade e a justiça social (Altieri, 2004). Nesse contexto, as sementes crioulas surgem como um componente essencial do paradigma agroecológico, representando o conhecimento ancestral e a resistência das comunidades em favor de modos de produção que rejeitam a dependência das sementes comerciais. As sementes crioulas simbolizam não apenas a preservação da agrobiodiversidade, mas também a luta por práticas agrícolas não colonizadoras. Assim, as Festas Feiras de Sementes Crioulas tornam-se espaços de construção coletiva e práxis territorial, onde dinâmicas de re-existência e re-territorialização se consolidam como respostas aos desafios impostos pela agricultura hegemônica, abrindo caminhos para um rompimento com estruturas opressoras e para a valorização de práticas agroecológicas enraizadas nos saberes locais.
Grosfoguel e Mignolo (2008) trabalham os conceitos de modernidade, colonialidade e decolonialidade incorporando-os num processo histórico desde o final no século XV, iniciado por Portugal e Espanha e praticado no decorrer dos séculos por diversos países na lógica destruidora da colonialidade, explorando e desapropriando terras, escravizando negros e indígenas nas Américas, Ásia e África. Os autores atribuem o surgimento do conceito de re-existência a Adolfo Alban Achinte. Desse modo, tratar de decolonialidade é trazer um significado de que “estamos nos referindo a um tipo de atividade (pensamento, virada, opção), de confronto com a retórica da modernidade e a lógica da colonialidade” (Grosfoguel; Mignolo, 2008, p. 33), não é uma questão apenas de resistência, mas de re-existência. Para Achinte (2008; 2013), esse conceito representa um diálogo crucial na construção de uma perspectiva contra-hegemônica e no enfrentamento das opressões que historicamente afetaram povos e indivíduos subalternizados.
Alban Achinte (2013, p. 459) estuda as pedagogias da (re)existência por meio de artistas indígenas e colombianos, apresentando três exemplos que ilustram “um horizonte de possibilidades para que os artistas étnicos continuem suas jornadas e para que nossas sociedades valorizem suas propostas tanto em seus locais de origem quanto nos circuitos institucionalizados da arte”. Esses exemplos incluem os pintores guambianos em busca de expressar sua cosmovisão, os afrocolombianos, que rastreiam memórias para ganhar visibilidade, e a música patiana, que fortalece identidades em prol da (re)existência. À medida que o autor contextualiza a arte como um meio de autorrepresentação e ressignificação, tornam-se evidentes novas facetas de pluralidade. A diversidade de cores da modernidade permite que indígenas e afrodescendentes abordem questões de exclusão social e violência inerentes à matriz colonial que normaliza a discriminação racial, ética e cultural. Alban Achinte destaca que as práticas de (re)existência identitária, política e cultural desafiam lógicas que não se limitam apenas às heranças das práticas coloniais:
Reexistência como os dispositivos que as comunidades criam e desenvolvem para inventar cotidianamente a vida e o poder, dessa forma confrontando a realidade estabelecida pelo projeto hegemônico que da colônia a nossos dias inferiorizaram, silenciaram e tornaram visível de forma negativa a existência de comunidades afrodescendentes. A reexistência visa descentralizar lógicas estabelecidas para pesquisar as profundezas das culturas – neste caso indígenas e afrodescendentes –, as chaves para as formas organizacionais, produção, alimentos, rituais e estéticas que permitem dignificar a vida e reinventá-la para continuar se transformando. A reexistência aponta para o que o dirigente comunitário, cooperativo e sindical Héctor Daniel Useche Berón “Pájaro”, assassinado em 1986 no município de Bugalagrande no centro de Valle del Cauca, Colômbia, certa vez perguntou: “o que vamos inventar hoje para continuar vivendo? (2013, p. 455).
Para Walsh (2009, 2017), as manifestações de (re)existência são observadas de várias formas: por meio do grito, que representa resistência, desobediência, insurgência, ruptura e transgressão em face do silenciamento imposto, como uma reação do colonizado diante das transformações em seu modo de vida. Outra manifestação é o ato de semear dentro das fissuras ou brechas do sistema capitalista-moderno-colonial-antropocêntrico-racista-hetero-patriarcal. Além disso, a construção da interculturalidade e da decolonialidade começa com a disposição de desaprender para, posteriormente, reaprender, buscando outras formas de “estar, fazer, ser, sentir, pensar, saber e viver” (Walsh, 2017, p. 25).
No contexto das mobilizações sociais, as festas feiras como espaços carregados de simbologias contribuem para a construção de estratégias coletivas de defesa dos modos de vida. Mais do que eventos pontuais, as feiras expressam posturas ativas diante das opressões territoriais e existenciais, revelando esforços por autonomia e reprodução social, que emergem de resistências múltiplas e reexistências cotidianas enraizadas em histórias de vida, dor, envenenamento, morte, superação e sobrevivência. Diante disso, ao adotar resistência e reexistência como aportes teóricos, foi possível iluminar as formas como esses movimentos se afirmam e se reinventam perante os desafios impostos no, do e pelo território.
Em 2021, o encontro chamado Um dia de Campo Feliz na Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI), em Mandirituba/PR, contou com a apresentação da Banda Filhos da Mãe Terra, a partilha de alimentos, a mística (mandala), a caminhada com visita a uma nascente e à Casa de Sementes. Este dia não foi necessariamente uma feira de sementes crioulas, contudo foram realizadas discussões para um calendário de Festas Feiras de Sementes que teriam início em 2022. O objetivo foi retomar essas atividades após a interrupção causada pela pandemia, que havia paralisado o calendário nos anos anteriores. Além disso, em frente à mandala elaborada com alimentos trazidos pelos(as) participantes, abriu-se uma roda de conversa e escuta de povos originários indígenas Kaiowa e Kaigang, Quilombolas (Vale do Ribeira), famílias agricultoras e freis que atuavam também em comunidades.
Ao longo do ano de 2022, segundo a ReSA e a AS-PTA, foram realizadas mais de 24 atividades no estado do Paraná. Destaca-se em Morretes/PR, nos dias 12 e 13 de novembro de 2022, a Feira de Sementes e Mudas. A feira começou com uma mística de abertura e o seminário “Direito dos Povos e as Sementes Crioulas”, com o objetivo de trazer informações sobre os movimentos sociais, trocar experiências e debater os direitos das comunidades tradicionais do campo, do urbano, das florestas e das águas, de incentivar a prática agroecológica dos agricultores e agricultoras que buscam diversificar seus cultivos, conhecer as sementes crioulas. O litoral do Paraná abriga a maior faixa contínua de Mata Atlântica, onde 80% dela é composta áreas de conservação, englobando três grupos de municípios: “os praianos turísticos (Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba), portuários (Antonina e Paranaguá) e rurais (Antonina, Morretes e Guaraqueçaba), estes dois últimos grupos, influenciados diretamente pela dinâmica econômica do agronegócio” (Silva et al., 2017, p. 42). Além disso, o litoral do Paraná concentra comunidades tradicionais e indígenas e a diversidade de produção de alimentos e cultivos sem a utilização de insumos ou agrotóxicos.
A Feira de Sementes e Mudas (Morretes/PR) foi a primeira Feira de Sementes Crioulas no litoral do Paraná, o enfoque estava em dar visibilidade para outras formas de fazer agricultura, integrando também experiências por meio das oficinas. Em uma das reuniões de organização, em outubro de 2022, surgiu a pergunta: se não se tem política de segurança da semente nem do guardião e da guardiã das sementes crioulas, como fazer a semente crioula circular? Pergunta que indica uma articulação entre os movimentos sociais em relação às políticas públicas, uma guinada na própria identificação para uma postura de guardião(ã) de sementes crioulas, a circulação das sementes e a territorialização como aspecto crítico ao modelo de agricultura convencional.
Outro exemplo, foi a 19a Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade, realizada entre os dias 25 e 26 de agosto de 2023, em Palmeiras (PR), no espaço do Parque de Exposições Francisco Rutcoski. Por ser uma feira regional, reuniu cerca de 27 municípios tanto do Paraná como de outros estados (Rio de Janeiro e Santa Catarina), e contou com mais de 90 expositores. Nesta feira foi realizado teste de transgenia com as sementes de milho. Quando o resultado era negativo para transgênicos (sem insumos químicos), a AS-PTA fornecia um certificado atestando que a família guardiã cultivava uma variedade de milho crioula.
Dessa forma, as Festas Feiras de Sementes Crioulas transcendem a simples troca de sementes; são territórios de resistência, luta e afirmação identitária, onde os desafios enfrentados pelas comunidades se convertem em oportunidades para preservar a biodiversidade e fortalecer a soberania alimentar. Esses espaços representam mais do que a resistência em si: são narrativas de enfrentamento e transformação coletiva, que integram práticas culturais, políticas e sociais capazes de (re)criar e afirmar modos de existência diante das adversidades. Não se trata apenas de sobreviver, mas de reinventar, fortalecer e transformar suas práticas e territórios. A expressão “a partir dos desafios” evidencia que essas ações de re-existência não apenas reconhecem os obstáculos, mas os transformam em motores de mobilização, inovação e afirmação da identidade e dos direitos das comunidades. Ademais, percebeu-se que existe uma ontologia política que valoriza o encontro entre o orgânico e o não orgânico, tanto entre os seres humanos e não humanos quanto com a própria natureza.
Território das Festas Feiras de Sementes Crioulas: espaços, sujeitos e práticas
Esta seção tem como objetivo apresentar de forma descritiva os dados empíricos obtidos pela observação participante e pelas entrevistas semiestrutuadas realizadas durante a pesquisa de campo. As Festas Feiras de Sementes Crioulas, a partir de seus espaços, sujeitos sociais envolvidos, formas de organização e práticas observadas, servirão de base para as análises críticas da próxima seção.
“Aqui, nesta garrafinha tem diversas sementes que representam mais de 100 anos de história”, parafraseou o dirigente da AS-PTA/ReSA durante a abertura formal da 18a Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade, em Irati/PR, entre os dias 16 e 17 de setembro de 2022. São sementes produzidas e guardadas por famílias guardiãs que estavam presentes na feira representando os aprendizados passados de geração em geração. Assim, as sementes não são apenas sementes, são portadoras de valores próprios. Dessas palavras, percebe-se a simbologia que resiste dentro da reprodução familiar, de modo que relembrar é como viver novamente o saber-viver-fazer dos entes queridos. As sementes crioulas levadas para a feira pelas famílias guardiãs e o movimento da narrativa dos interlocutores que organizam a feira direcionam um “sentipensar” integrado com a natureza e a sua defesa. Afinal, a germinação de alimentos de qualidade a partir das sementes crioulas só é possível quando o solo e a água estão livres de contaminação.
Como analisado por Escobar (2005), a associação da experiência enraizada com a vida diária conecta a cultura e a identidade, se amplia e não se fixa, ou seja, a noção de semente crioula associa-se à soberania e à segurança alimentar, à luta e à proteção da terra. As práticas com as sementes crioulas promovem a defesa do lugar, e a materialidade da semente tende a não enfraquecer o discurso agroecológico. Na 18a Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade, em Irati, não podem ser negadas as existências de outros saberes, subjetividades e cosmovisões que coexistem com o modelo vigente de agricultura nesses dias de feira, pois são diversas simbologias expostos por meio da música, da decoração, das falas e dos discursos. Lugones (2014) ressalta que movimentos contra-hegemônicos não se deixam tencionar às lógicas vigentes justamente pela capacidade dos sujeitos de não se “dobrarem”, resistindo e existindo. O plantar e o colher envolvem as experiências vividas, geracional e de memória, se reconhecer pela semente em práticas constantes (envolvendo o trabalho-ação, a terra e as sementes).
O participante 01 (2022) se identificou como agricultor, fazendo parte da ReSA, Coletivo Triunfo, coordenador do Grupo de Agroecologia Che Guevara, membro do Núcleo de Agroecologia Maria Rosa de Anunciação no Assentamento do Contestado (MST), membro da Rede Ecovida de certificação e sócio-fundador da Cooperativa da Indústria e Comércio Terra Livre. Como participante e expositor de muitas das feiras supracitadas (Irati, Palmeiras, Morretes, Lapa e Curitiba), guarda em sua casa as suas sementes em pequenos recipientes e as mantém utilizando um controle escrito e numerado para catalogação. Atualmente, possui mais de 710 variedades de fava e feijão (de feijão cariocão são mais de vinte), de hortaliças são mais de centenas, de flores, de frutas, mais de quarenta tipos de tomates, quinze de ervilha, trinta de alface, seis de soja não transgênica, pepino, abóbora, entre outras variedades. Certas tipos e cultivares de milho e de feijão estão na sua família há gerações (faz parte de suas lembranças e vivências da infância) –“veja bem, semente crioula tem história”. Escobar (2014a) pontua a continuidade de um “mandato ancestral”, que persiste na memória dos mais velhos tanto na tradição oral como na experiência vivida, sob outro modelo de vida e visão de mundo (cosmovisão).
Já a participante (02), que participou das feiras de Morretes, Lapa, Curitiba, Irati, informa que tem sementes antigas, cuida, planta, colhe e armazena/guarda, como as de seu pai:
Eu tinha o trigo, um trigo do tempo do meu pai, tem mais de 60 anos, troquei hoje por duas garrafas de vinho. Garrafinha dessas de sementes troquei por garrafas de vinho. Eu não sei, dizem que é bom. Um vou dar de presente e outro vou deixar lá (2022).
A participante 03 (2022), que é guardiã de sementes crioulas na área urbana (hortaliças, verduras, alface, vagem, pimentões, flores, repolho, tomate e plantas medicinais), em Palmeiras/PR, afirma que aprendeu a guardar as sementes conversando com os(as) agricultores(as) e com a assessoria da AS-PTA, e com o tempo foi entendendo a importância da semente crioula, “guardando para a vida, para as próximas gerações”. A territorialização também está no agir social local e territorial que, para Saquet (2007), é visto como um fenômeno social envolvendo indivíduos (parte de grupos que interagem entre si) mediados no tempo e no espaço.
Ter comunidades, famílias agricultoras e famílias guardiãs que desejam fazer feiras de sementes, segundo o participante 04 (2023), é o primeiro passo para que ocorra uma organização de Feiras de Sementes. As feiras são oportunidades de troca, não apenas uma movimentação comercial com as vendas de sementes crioulas. Antigamente, de acordo com o participante 04 (2022), as trocas aconteciam apenas entre vizinhos, pois um ajudava o outro com sementes ou alimentos ou produtos excedentes ou em mutirões. Além disso, entre as famílias era comum perder uma certa variedade de sementes, seja por algum evento climático, ou durante o processo de conservação e guarda ou na colheita.
Muitas Festas Feiras de Sementes possuem um sentido mais político, e buscam o aumento de circulação de pessoas, a participação de ativistas, políticos, sindicalistas, representantes municipais, apoiadores, famílias agricultoras e guardiãs de sementes, segundo o participante 04 e o participante 05 (2023). Geralmente, nas Feiras Regionais, são redigidas cartas de manifesto, que são encaminhadas para o poder público. Já as feiras que ocorrem dentro dos territórios indígenas, quilombolas ou de famílias agricultoras, além das pautas relacionadas com a agroecologia e às sementes, voltam-se também para as dificuldades e adversidades enfrentadas no cotidiano dessas comunidades. Foi o caso da Festa Feira de Sementes Crioulas no Quilombo da Restinga, na Lapa, em que as discussões se concentraram nos impactos das obras de duplicação da estrada e nas reivindicações relacionadas à isenção do pedágio no entorno da BR-476.
As dinâmicas dos sujeitos sociais nas Festas Feiras de Sementes Crioulas são múltiplas, revelando a riqueza e a complexidade desses encontros. Esses eventos evidenciam não apenas sua dimensão festiva e cultural, mas também um caráter político e pedagógico, que fortalece a organização coletiva e a circulação de saberes.
Práticas territoriais de resistência e reexistência: uma análise das Festas Feiras de Sementes Crioulas
Nesta seção desenvolveu-se uma análise das Festas Feiras de Sementes Crioulas a partir da articulação com os dados empíricos e os referenciais teóricos para compreender as feiras como práticas territoriais de resistência, de enfrentamentos e de construção de alternativas de existência e reexistência.
O território das Festas Feiras, que acontecem em diversos municípios, reúne uma ampla diversidade de participantes, incluindo comunidades quilombolas, povos indígenas originários, faxinalenses, ribeirinhas, caiçara e famílias agriculturas e guardiãs de sementes. Ademais, contam com a presença da comunidade LGBTQI+ do Movimento dos Sem Terra (MST), de movimentos feministas da agroecologia e de diversos grupos e movimentos sociais que estão presentes nas feiras e que fortalecem esses espaços por meio da partilha, saberes e experiências. As sementes crioulas têm a centralidade no reconhecimento de sua ancestralidade e nas raízes étnicas culturais. As feiras também proporcionam um espaço para lidar com os desafios e as dificuldades compartilhadas e, principalmente, de promoção do encontro entre povos, onde se fortalecem a autonomia, a visibilidade e a união de forças.
A leitura crítica buscou evidenciar como esses encontros materializam estratégias de defesa dos territórios, preservação da agrobiodiversidade e fortalecimento das redes comunitárias, revelando disputas políticas e simbólicas que atravessam os modos de ser, fazer e viver dos sujeitos envolvidos. Na Figura 1 é possível visualizar um diagrama com o esquema das Festas Feiras de Sementes Crioulas, destacando a centralidade das sementes crioulas nas festas e feiras, que são espaços de encontro, troca e cooperação entre povos indígenas, quilombolas, famílias agricultoras, movimentos sociais e outros grupos. Essas sementes estão diretamente conectadas à agroecologia, à vida e à sobrevivência alimentar, representando uma forma de resistência perante as forças externas que promovem a desterritorialização. A luta pela reterritorialização reforça que o território não se limita à noção de terra, mas é uma construção cultural e coletiva, sustentada pela organização, diálogo, partilha e cooperação. O diagrama também demonstra a resistência à imposição ao “mono-mundo”, defendendo a coexistência de múltiplos mundos e ontologias como forma de preservar a diversidade cultural e a autonomia dos territórios.
Figura 1 – Esquema das Festas Feiras de Sementes Crioulas Fonte: Martins (2024).
Nas práticas transformadoras (práxis), trabalhar em rede significa construir relações entre os sujeitos baseadas na organização coletiva, no reconhecimento dos saberes diversos e nas ações que valorizam a partilha e o diálogo como caminhos para a construção comum pela semente crioula e pela agroecologia. Nesse sentido, a participação e a cooperação se fortalecem pela escuta e pelos vínculos formados, respeitando a ancestralidade, a oralidade, a cultura e a memória. Dada a diversidade, reconhece-se que não há uma forma única de existir, mas múltiplas formas de coexistência e cosmovisões, que dialogam, se entrelaçam e que procuram resistir à homogeneização promovida pela agricultura moderna.
Para Toledo (2021, p. 194), a tendência na América Latina é a “agroecologia política”, ou seja, não pode ser alcançada “por inovações tecnológicas ambientais ou agronômicas, mas que é necessária uma mudança institucional imprescindível nas relações de poder, ou seja, que leve em consideração fatores sociais, culturais e políticos”. E, para isso, é preciso que se reconheça a diversidade, que se tenha o “diálogo intercultural”. Walsh (2017) destaca que a construção da interculturalidade perpassa a disposição de se aprender com o outro, de outras formas de ser, de estar, sentir e pensar. A participante 06 (2024) ressaltou a importância do encontro, da partilha e do diálogo, destacando também a dimensão política da visibilidade: “a gente existe e coexiste com a semente, fortalecer a luta”. Essa afirmação configura uma práxis política e de resistência, que enfrenta os desafios impostos aos territórios e as adversidades da agricultura moderna.
No artigo de Abramovay et al. (2023), os autores discutem o impacto da monotonia alimentar no futuro dos sistemas alimentares. Esse conceito refere-se à padronização produtiva e à dependência global de poucos cultivos dominados por grandes empresas, como trigo, milho e soja, que representam 50% do suprimento alimentar humano. A monotonia alimentar compromete a segurança e a soberania alimentar, além de agravar deficiências nutricionais, como doenças cardíacas e obesidade. Além disso, a redução da agrobiodiversidade intensifica os problemas climáticos e os impactos ambientais, destacando a urgência de transformar os métodos produtivos para respeitar os limites ecossistêmicos. A perda de diversidade afeta tanto os cultivos agrícolas quanto os produtos de origem animal, com sérias consequências para a biodiversidade global.
Nas feiras, as sementes estão em outra perspectiva das geneticamente modificadas e transgênicas utilizadas na agricultura moderna. Há, nesse território, um interior que pulsa como espaço de resistência, onde as práticas territoriais e proposições de alternatividades emergem em contraposição à naturalização dominante. Neste interior, afirma-se a valorização das sementes crioulas e consolidam-se processos de reterritorialização. Revelam-se pluralidades de resistências e insurgências de novos saberes (saberes populares e práticas) em defesa das sementes crioulas. Conforme Saquet (2009, p. 90), de maneira geral é fundamental considerar a processualidade relacional espaço-tempo-território; desta forma, “território como produto social e condição”, efetivando-se nas relações humanas. Destaca-se o trecho abaixo:
A territorialidade também significa condição e resultado da territorialização. O território é o conteúdo das formas e relações materiais e imateriais, do movimento, e significa apropriação e dominação, também material e imaterial, em manchas e redes. A territorialidade corresponde ao poder exercido e extrapola as relações políticas envolvendo as relações econômicas e culturais, indivíduos e grupos, redes e lugares de controle, mesmo que seja temporário, do e no espaço geográfico com suas edificações e relações.
Entre os motivos e objetivos de se fazer feiras pela valorização das sementes crioulas e da agroecologia, está a importância do encontro e da partilha, validação das pautas comuns e próprias de territórios diversos, visibilidade política, trocas e vendas das sementes e mudas, alimentação saudável; mas, principalmente, no enfoque e nas agendas dos movimentos sociais, direcionamentos para a consciência de si em relação ao que está imposto como mundo real – a autonomia. A noção de cultura como diferença e de território como diferença (o que engloba lugar, movimentos, vida e redes), são reflexões que questionam os dualismos constitutivos da modernidade, contrapondo a ideia de um mono-mundo à concepção de múltiplos mundos e à noção de pluriverso (um mundo onde cabem muitos outros). Neste sentido, Escobar (2014a) afirma: “En este marco, lo que “ocupa” es el proyecto moderno de Un Mundo que busca convertir a los muchos mundos existentes en uno solo; lo que persevera es la afirmación de una multiplicidad de mundos” (Escobar, 2014a, p. 76). Contudo, Saquet (2022, p. 69) faz uma pergunta interessante: quem, onde e como vivem as pessoas que acessam a experiência espaço-tempo?”. No entendimento do autor, é a nossa cotidianidade, que reflete a “expropriação e a continuada desterritorialização-reterritorialização” (p. 73), que revela quem somos, como vivemos e o que pensamos: “Aí estão invisibilizadas a heterogeneidade e a coexistência temporal, espacial e territorial (social-natural cosmológica) existentes no espaço-tempo da nossa vida cotidiana (Saquet, 2022, p. 73).
Por fim, os espaços que as feiras de sementes ocupam, independente do local geográfico em que estejam, mostram-se como territórios de resistência (reterritorializador) diante do modelo hegemônico, da monotonia alimentar e de suas consequências desastrosas para a agrobiodivesidade (desterritorializador). É importante pensar os espaços das feiras como territórios-práxis, com manifestações do agir dos sujeitos, estratégias táticas de persistências de valorização da agroecologia pela semente crioula, re-existência e desobediência em face do silenciamento que opera como força impositiva.
Considerações finais
Este artigo buscou analisar as Festas Feiras de Sementes Crioulas como práticas de resistência e reexistência que se articulam às lutas cotidianas dos sujeitos pela defesa das sementes crioulas, dos seus territórios e da agrobiodiversidade, a partir de uma abordagem qualitativa, descritiva e de observação participativa, considerando a História Oral como instrumento metodológico. A análise crítica dos dados empíricos associados à teoria demonstrou que nesses eventos ocorrem ações de organização de resistência às lógicas desterritorializadoras e que se constituem como estratégias de reterritorialização e reafirmação das pluri diversidades dos territórios, saberes e modos de vida.
As sementes crioulas expressam, além da materialidade genética e orgânica vegetal, simbolismos que envolvem espiritualidade, ancestralidade, misticismo e celebrações da vida (imaterial). Inseridas em um campo de disputas, as questões relacionadas a sua produção e preservação são evidenciadas nas Festas Feiras de Sementes. Esses eventos carregam simbolismos e ressignificações representados pelas ações e práticas de seus organizadores e participantes, direcionando-se para a busca de autonomia, reprodução social, resistência e fortalecimento de redes comunitárias em oposição ao sistema mercantilista.
As Festas Feiras de Sementes configuram-se como práticas de resistência e de reexistência, em que ocorrem movimentações políticas, discursivas e contestatórias contra a agricultura hegemônica, promovendo alternativas que desafiam a naturalização de modelos dominantes. Esses encontros revelam uma ontologia política que valoriza as conexões entre o orgânico e o não orgânico, entre seres humanos, não humanos e a própria natureza. Nos espaços das Feiras de Sementes Crioulas, movimentos sociais, entidades, organizadores e participantes legitimam suas práticas em torno das sementes crioulas, promovendo a cooperação e o bem comum, com a semente simbolizando um elemento unificador. Essas feiras tornam-se espaços de resistência ao agronegócio e suas estruturas de dominação, posicionando-se contra as sementes transgênicas, os insumos químicos, a destruição ambiental, a erosão do solo e a contaminação das águas.
A preservação e a troca das sementes crioulas fortalecem um movimento de reterritorialização, desafiando o modelo agrícola moderno e reafirmando a importância das diversidades e pluri diversidades territoriais. Ao transitar por diferentes localidades, as feiras promovem ações coletivas que sustentam uma agricultura sem agrotóxicos e transgênicos, consolidando-se como um movimento contínuo de oposição à hegemonia química e industrial. A monotonia alimentar, caracterizada pela dependência de um número pequeno e limitado de cultivos agrícolas, coloca-se como um desafio para a agrobiodiversidade, essencial para a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental. A padronização produtiva reduz a variedade de nutrientes disponíveis e intensifica problemas de saúde pública. Por outro lado, a preservação da agrobiodiversidade está intrinsecamente ligada aos direitos da natureza. As sementes crioulas representam um contraponto direto à monotonia alimentar, oferecendo um caminho de resistência e reexistência diante do avanço do agronegócio e das práticas agrícolas hegemônicas. Enraizadas no conhecimento tradicional e na agrobiodiversidade local, essas sementes fortalecem a segurança alimentar ao diversificar as fontes de nutrientes e resgatar práticas agrícolas sustentáveis.
As Feiras de Sementes Crioulas são espaços fundamentais nessa dinâmica, pois promovem a troca de saberes, a construção de redes solidárias e a valorização das identidades culturais das comunidades pela ação e organização dos sujeitos sociais. Elas operam como territórios de resistência, nos quais os desafios impostos pelo modelo de agricultura moderna se transformam em oportunidades de reterritorialização, reafirmando o direito à soberania alimentar e ao respeito à agrobiodiversidade como pilares para a preservação da natureza e das práticas ancestrais. São espaços de resistência política, cultural e ambiental. Seus protagonistas desenvolvem dinâmicas de reterritorialização que transcendem à troca de sementes, promovendo reexistências e mobilizações contra o agronegócio e suas implicações colonizadoras. Ao consolidar redes de solidariedade e cooperação entre movimentos sociais, esses eventos fortalecem estratégias de autonomia e a valorização da diversidade territorial e cultural. Assim, as Festas Feiras de Sementes Crioulas emergem como expressões concretas de luta e resistência, fomentando um modelo de agricultura sustentável que respeita as pluri diversidades dos territórios e promove relações mais harmônicas com o meio ambiente: resistência aos desafios (forças de desterritorialização) à re-existência a partir dos desafios (reterritorialização).
Por fim, a pesquisa concentrou-se nas práticas dos sujeitos sociais relacionados com as Festas Feiras de Sementes Crioulas, mas a investigação pode ser ampliada considerando outros atores sociais relevantes, como jovens, consumidores urbanos ou agentes do poder público. Sendo assim, a pesquisa abre caminhos para aprofundar a relação entre as feiras e a educação popular, o fortalecimento das redes comunitárias e a construção de políticas públicas envolvendo as sementes crioulas, soberania e segurança alimentar. Pode-se ainda investigar: o papel das mulheres guardiãs de sementes crioulas na conservação delas e na geração de renda familiar; a participação de jovens nos movimentos sociais e de resistência; o envolvimento das universidades em projetos com as comunidades; as formas de autonomia e de redes coletivas dos povos indígenas e quilombolas na preservação de sementes ancestrais; o registro e a catalogação das sementes e mudas levadas, disponibilizadas e trocadas nas feiras; os processos de patrimonialização e sua relação com memória, identidade e cultura alimentar; e a articulação das feiras com as Casas de Sementes para criação de políticas públicas. É importante manter uma perspectiva que valorize o pluriverso e a interculturalidade, reconhecendo, respeitando a existência e coexistência de diferentes cosmovisões e práticas. Ademais, é fundamental abordar as reivindicações e demandas dos povos originários, quilombolas, povos da água e da terra, levando em consideração sua história, o reconhecimento dos seus direitos de acesso ao território e a terra.
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FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em diferentes momentos ao longo do processo de doutoramento.
Luciana Galvão Martins E-mail: lucianagmartins@gmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/6274535635211804 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2879-3172 Valdir Frigo Denardin Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (1993), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) e doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2004). Realizou doutorado sanduíche na Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines no C3ED (França) e Pós-Doutorado (2015/2016) no Laboratoire Dynamiques Sociales et Recomposition des Espaces LADYSS (Université de Nanterre, França). Atualmente é dedicação exclusiva da Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral, curso de Ciências Ambientais. Participa do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento - PPGMADE/UFPR e Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável - PPGDTS/UFPR. Desenvolve pesquisa nos seguintes temas: Economia Ecológica, agricultura familiar, desenvolvimento territorial, territórios sustentáveis, ecodesenvolvimento e litoral do Paraná. E-mail: valdirfd@yahoo.com.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/0290714285197089 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8074-6544 |
Revista IDeAS, Rio de Janeiro, volume 19, 1-24, e025006, jan./dez. 2025 • ISSN 1984-9834
[1] Pereira (2017) parte do diálogo entre resistência adotada por autores como Foucault, Arendt, Scott, como de re-existência de Porto-Gonçalves e a noção de giro descolonial e descolonialidade de Maldonado-Torres; Castro-Gomez; Grosgoguel; Mignolo.